segunda-feira, 8 de junho de 2009

Audiência

Thiago Turbay Freiria

Sempre a audiência dos controles é mais apreciada que a programação, ficamos mais tempo para ele, do que com ele. Um ato contínuo e desregrado tomou conta dos nossos hábitos, será ele resposta do que?

Trocar de canal compulsivamente é uma obscenidade de conteúdo, como as vistas de uma bela perna que se ausenta de pano e mostra alguns palmos de pele, mas nunca chega ao ponto, se é que entendem. A televisão então, perspicaz, tratou de prolongar as manchetes e as pernas para segurar os prenúncios dos anunciantes.

Acharemos a epopéia invertendo a ordem dos canais, a história de nossas vidas em programação televisiva. Há um sobre humano, um cadáver, que passa os finais de tarde todos pelas novelas e o domingo no fausto, esse sapiens está protegido do costume de não prestar atenção e ficar mudando de canal para achar a “resposta”. Ele ainda é fiel. Mas há outros.

Algumas legendas rolam enquanto nos ambientalizamos aos canais, e só paramos nas vinhetas, como se esperássemos uma salvação. Esse hábito transformou a televisão em um panorama excêntrico de sinestesia e emoções que são irreais, e que transcrevemos a nossa vida para embelezar a serena vidinha que temos.

Agora transportem isso ao real! A vida está um rascunho de novela, e passamos de canal a canal para achar o final feliz que esperamos. Há dentro desse script a troca de canal como de pessoas. Deixamos de dar importância ao que merece.