terça-feira, 15 de abril de 2008

Bom cinema saravá.

Thiago Turbay Freiria
Os gemidos tórridos e os palavrões voltam ao cenário fílmico nacional? Não, eles nunca desapareceram! O cinema brasileiro utiliza o vocabulário marginal para medir a interação com seu público. Os palavrões são um canal de comunicação com os espectadores. Assim que as formas são induzidas pelo conteúdo, o cinema nacional repete os mesmos temas e situações, que é a marginalidade, para não falir. Os grandes sucessos de nosso cinema tem a mesma trama marginal- o que seduz os espectadores. O exemplo de sucesso de bilheteria do cinema nacional varia da favela para o humor de chanchada, e paramos por ai. Estamos retomando o cinema marginal da década de 60? O movimento cinematográfico dos tempos idos quebrava a linguagem artística do cinema comum, suas preocupações eram a subversão e o filme a qualquer custo, mesmo com baixo orçamento. Os experimentalismos tinham um caráter profanador. O uso de artifícios que legitimavam as intenções dos diretores eram temas da marginalidade e a linguagem escachada. Nosso cinema de sucesso parece conformar a marginalidade, e usa-la como colírio profano- o cinema arregala aos olhos a crueldade suburbana ou a aridez da caatinga para que nos sintamos complacentes ou fortes. Acima da razão convencional que vivemos há um mundo, em nossos arredores, marginal ou marginalizado, com ou sem nossa culpa assistimos ao cinema nacional para pesarmos nossa interação na vida real brasileira. O sucessos de Tropa de Elite e de Cidade dos Homens- novos cartazes da safra nacional- explicitam a tara pela marginalidade que temos, somos seduzidos e profanados por esses filmes, retomando a experiência do cinema marginal da década de 60- realizados pelos cineastas agitados e estrondosos: Rogério Sganzerla (O bandido da luz vermelha, A mulher de todos) e João Silvério Trevisan (Orgia ou O homem que deu cria), com os constantes silêncios de Julio Bressane (Matou a família e foi ao cinema, O anjo nasceu) e Ozualdo Candeias (A margem, A herança). Os Marginais partiram para o ataque, fazendo filmes que ignoraram a censura e o mercado. Revisando nosso cinema contemporâneo, a escolha dos temas marginais cultua nosso cinema antigo, mas a preocupação com o mercado é atribuído apenas ao movimento de retomada, que celebra o drama e a desilusão, mas concerta a visão mercadológica, atraindo espectadores massivos e batendo recordes de bilheteria como o caso de Tropa de Elite, do diretor José Padilha. Os filmes de maior bilheteria do cinema nacional caminham entre as temáticas marginais. Carandiru ( dirigido por Hector Babenco) , sobre o massacre de 111 detentos na casa de Carceragem com nome homônimo, ocorrido em 1992, levou aos cinemas em 2003- 4,6 milhões de espectadores. Cidade de Deus ( Fernando Meirelles) fez 3,2 milhões de espectadores, impulsionados pela retomada de público para filmes nacionais desde o filme Central do Brasil, de Walter Salles, lançado em 1998. Tropa de Elite encabeça a fila nacional de filmes mais vistos, em 2007. A história do capitão Nascimento- do grupo de operações especiais, da polícia do Rio, o BOPE- o batalhão de ELITE da polícia “os caveiras”. O batalhão , no filme, é responsável de apaziguar o Morro do Turano, onde o Papa ficará instalado, na visita ao Rio, em 1997. O capitão é responsável de achar um sucessor para se afastar do cargo, motivado pelo nascimento do filho. O filme de Padilha arrecadou nas bilheterias nacionais 2,10 milhões de espectadores. O título do cinema marginal organiza as atuações de bilheteria entre os espectadores brasileiros, os filmes nacionais que contém na sua trama um conteúdo marginalizado carrega para as salas de exibição recordes de público. Por que? personagens desiludidos e desestruturados comovem nosso público? Os dramas pessoais ou institucionais são fetiches do cinema nacional. Dois filhos de Francisco, do diretor Breno Silveira, foi visto por 5,2 milhões de pessoas no país em 2005.O filme conta a trajetória da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano. “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976 - 10,7 milhões) – ainda hoje o campeão de bilheteria –; “Dama do Lotação” (1978 - 6,5 milhões); "Lúcio Flávio - Passageiro da Agonia” (1977 5,4 milhões). Em comum com os filmes marginais a direção dos filmes do cinema contemporâneo são autorais, credenciando poucos diretores à realizar filmes atrativos, reconhecido pelo público através dos cartazes publicados anteriormente. O cinema atual realiza o marketing autoral como emblema de grande produção, o que difere dos diretores marginais, que também organizavam suas obras para identificar seus realizadores, contudo isso nem sempre aproximava o público- que nem sempre admitia as experiências realizadas por esses cineastas. O diretor, ator e roteirista José Mojica Marins (No auge do desespero, À meia-noite levarei sua alma), mais conhecido como Zé do Caixão, ainda revela o delírio pela temática marginal, comprovada pela mostra José Mojica Marins - Retrospectiva da obra, que recuperou 16 filmes (13 longas, 1 média e 1 curta-metragem). Um dos precursores do cinema marginal que ainda reestréia em cartaz, como clássico. O alvo comum do cinema atual, a favela e as temáticas de dramas regionalistas, é fonte do cinema realizado no "boca-do-lixo". Essa corrente underground alinhada com o movimento mundial de contracultura tem destaque nas produções atuais, porém com mais zelo de produção e alinhamento à estética de filmes estrangeiros, ou ao modelo televisivo. Como demonstra o filme Cidade dos Homens (Paulo Morelli), que antes estreava como série televisiva e hoje está em cartaz com o drama de Acelora e Laranjinha, protagonistas do filme, ingressando na vida adulta durante uma guerra no Morro da Sinuca.

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